Qualquer que seja o trabalho que fazes, encontra
maneiras de gostar dele. Desfruta, cantando. Deixa que o trabalho seja uma
dança. Se estiveres a fazer limpezas, isso pode ser uma dança, uma canção, um
prazer, um deleite e trar-te-á benefícios tremendos.
As pessoas continuam a pensar erradamente.
O
trabalho não é trabalho. E sem trabalho ficarás mais podre – porque então o que
farás? Toda a tua energia será apenas um turbilhão dentro de ti e provocará mil
e um problemas. O trabalho é necessário… é uma descontracção. Através da
comida, do sono, geras energia. Onde colocá-la?
Tens de ser criativo. E «trabalho» é uma palavra
muito feia, particularmente no Ocidente, é muito feia. Isto criou uma
determinada atitude subconsciente. Nas sociedades primitivas, o trabalho é tido
quase como uma brincadeira, um jogo. Tudo é visto como um jogo. Numa aldeia
primitiva, ainda em zonas remotas da Índia de hoje, os aldeãos levantam-se às
três ou quatro da madrugada e toda a aldeia começa a cantar. Estão a
preparar-se para o seu dia de trabalho. De cada cabana se ouvem canções,
tambores e alguém a tocar flauta. Depois toda a gente sai e se dirige aos
campos para trabalhar, a cantar em coro. E isto prolonga-se por todo o dia. O
trabalho parece ser feito com divertimento. No final do dia regressam,
cansados. Fizeram um trabalho árduo, sob o sol quente. Voltam às suas aldeias e
começam a dançar pela noite dentro. Dançam até tarde e adormecem debaixo das
árvores. De manhã, lá estão novamente a cantar. Torna-se muito difícil decidir
o que separa trabalho e divertimento – eles sobrepõem-se. Uma vez veio um homem
ter comigo. Era condutor de autocarros. Claro que conduzir autocarros em
cidades como Mumbai ou Delhi, onde o trânsito é neurótico, leva a que se esteja
continuamente à beira de um esgotamento nervoso. Ele estava muito nervoso, a
tremer.
Disse-me: «Quero ver-me livre deste trabalho. É
demasiado. Não consigo dormir, tenho pesadelos. E todo o dia ao volante no meio
de um trânsito tão neurótico – não consigo descontrair um só momento que seja».
Eu disse-lhe: «Tenta durante sete dias uma meditação que te vou dar. Vê a coisa
como um desafio: as pessoas a correr pelo meio da estrada e a fazer tudo
caoticamente. Pensa que eles estão apenas a criar uma situação na qual tu
possas testar as tuas capacidades. Vê-o como uma brincadeira. Como uma situação
em que a tua energia é testada e as tuas capacidades avaliadas.»
Esta ideia agradou-o e sete dias mais tarde ele
voltou e disse-me: «Funcionou… espantoso! Agora não me preocupo com a estrada, agora
divirto-me. Quanto mais caótica está, mais me divirto. É mesmo bonito como
consigo evitar todos os problemas no trânsito. Quando volto para casa, volto
quase como um jogador após uma vitória, como alguém que ganhou uma medalha de
ouro nos Jogos Olímpicos!»
Vê o trabalho como uma brincadeira e diverte-te com
ele. Tudo é um desafio. Não continues a fazê-lo, a arrastar-te porque tem de
ser feito. Assim ficarás doente. Se tiveres de trabalhar quatro, cinco horas
por dia e essas horas forem uma subcorrente contínua de evasão ao trabalho,
então estarás a dividir o teu ser. Não se trata do trabalho. Trata-se de todo o
teu bem-estar interior. Ficarás divido se fizeres durante quatro ou cinco horas
algo de que não gostes ou de que não consigas gostar.
Portanto, existem apenas duas possibilidades: ou
encontras um trabalho de que gostas ou te tornas capaz de gostar do trabalho,
seja ele qual for. A segunda alternativa é a melhor porque é muito difícil
encontrar um trabalho de que gostes. Mais cedo ou mais tarde vais deixar de
gostar dele. No início gostas. Toda a gente da comuna vem e no início está
cheia de energia. Logo que autorizo que entrem e vivam dentro da comuna, a
energia deles desaparece. Começam a criar problemas e a fugir do trabalho e
mais isto e mais aquilo. Se nada funcionar, ficam doentes. Não digo que estejam
doentes conscientemente. Não digo que finjam estar doentes – não. Podem estar
doentes mas isso é obra deles, é karma deles. Eles criaram-no. Primeiro as
pessoas vêm e dizem que qualquer que seja o trabalho, eles fá-lo-ão e que o
facto de estarem na comuna é recompensa suficiente. Quando se lhes dá trabalho
e eles já fazem parte da casa, quando se instalam e sabem que ninguém
transtornará este seu estatuto de instalados, então começam a criar problemas.
Portanto, a alternativa é encontrares um trabalho de que gostes. Mas isso não
vai ser de ajuda durante muito tempo porque todo o tipo de trabalho aos poucos
se torna aborrecido. Tens de repetir tudo. A outra alternativa é melhor. Traz
para a vida a capacidade de gostar de tudo o que fazes: qualquer que seja o
trabalho, poderás gostar dele. Tenta. Descobre maneiras de gostar do trabalho.
As pessoas querem encontrar maneiras de não gostar dele, por isso evidentemente
encontram-nas. Durante três semanas tenta trabalhar e gostar de trabalhar.
Desfruta, cantando. Deixa que o trabalho seja uma dança. Se estiveres a fazer
limpezas, isso pode ser uma dança, uma canção, um prazer, um deleite e
trar-te-á benefícios tremendos. E a doença desaparecerá.
Fonte: In Osho, Beloved of My Heart, # 8